segunda-feira, 6 de junho de 2011

Família deve ter apoio das instituições públicas, diz Bento XVI

Papa Bento XVI durante missa em Zagreb
Após a Missa com as famílias croatas, o Papa Bento XVI recitou o Regina Coeli, e invocou a intercessão da Virgem Maria, no título de Marija Bistrica, "para que as instituições públicas apoiem a família, célula do organismo social".

O Santo Padre afirmou que foi à Croácia para confirmar os irmãos na fé da Igreja, mas simultaneamente, os croatas retribuiram com a mesma fé, enriquecida com "experiências, alegrias e sofrimentos". E complementou: "de maneira particular, dais-me a vossa fé vivida em família, para que eu a conserve no patrimônio da Igreja inteira".

Leia a reflexão na íntegra 

Amados Irmãos e Irmãs!

Antes de terminar esta solene celebração, desejo agradecer-vos pela vossa intensa e devota participação, com a qual quisestes exprimir também o vosso amor pela família e o vosso compromisso a favor da mesma – como há pouco recordou Mons. Župan, cujas palavras lhe agradeço de coração.

Hoje estou aqui para vos confirmar na fé; é este o dom que vos trago: a fé de Pedro, a fé da Igreja. Mas simultaneamente vós me dais esta mesma fé, enriquecida com a vossa experiência, alegrias e sofrimentos. De maneira particular, dais-me a vossa fé vivida em família, para que eu a conserve no patrimônio da Igreja inteira.

Sei que vós encontrais grande força em Maria, Mãe de Cristo e nossa Mãe. Por isso, neste momento, dirigimo-nos a Ela, presentes em espírito no seu Santuário de Marija Bistrica, e confiamos-Lhe todas as famílias croatas: os pais, os filhos, os avós; o caminho dos esposos, o empenho educativo, o trabalho profissional e doméstico. E invocamos a sua intercessão para que as instituições públicas apoiem a família, célula do organismo social.

Queridos irmãos e irmãs, precisamente daqui a um ano, celebraremos o VII Encontro Mundial das Famílias, em Milão. Confiemos a Maria a preparação deste importante acontecimento eclesial.

Neste momento, unimo-nos em oração também com todos aqueles que na Espanha, na Catedral de Burgo de Osma, celebram a beatificação de João de Palafox e Mendoza, luminosa figura episcopal do século XVII no México e Espanha; foi homem de vasta cultura e profunda espiritualidade, grande reformador, Pastor incansável, defensor dos índios. Que o Senhor conceda à sua Igreja muitos e santos Pastores como o Beato João.

Queridas famílias, não temais! O Senhor ama a família e acompanha-vos!

Sejam testemunhas da beleza conjugal

Papa Bento XVI durante missa do Encontro das
Famílias Croatas
Nesta Santa Missa que tenho a alegria de presidir, concelebrando com numerosos Irmãos no episcopado e com um grande número de sacerdotes, agradeço ao Senhor por todas as queridas famílias aqui reunidas e por muitas outras que estão unidas conosco através do rádio e da televisão. 

O meu agradecimento particular ao Cardeal Josip Bozanić, Arcebispo de Zagrábia, pelas sentidas palavras que me dirigiu no início da Santa Missa. A todos dirijo a minha saudação e exprimo a minha grande estima com um abraço de paz.

Celebramos há pouco a Ascensão do Senhor e preparamo-nos para receber o grande dom do Espírito Santo. Vimos, na primeira leitura, como a comunidade apostólica se reunira em oração no Cenáculo com Maria, a Mãe de Jesus (cf. Ato 1, 12-14). Este é um retrato da Igreja cujas raízes assentam no evento pascal: de fato, o Cenáculo é o lugar onde Jesus instituiu a Eucaristia e o Sacerdócio na Última Ceia, e onde, ressuscitado dos mortos, efundiu o seu Espírito sobre os Apóstolos ao entardecer do dia de Páscoa (cf. Jo 20, 19-23). 

O Senhor ordenara aos seus discípulos que “não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem a Promessa do Pai” (Ato 1, 4), isto é, pedira que permanecessem juntos preparando-se para receber o dom do Espírito Santo. E eles reuniram-se em oração com Maria no Cenáculo à espera do acontecimento prometido (Ato 1, 14). 

Permanecer juntos foi a condição que Jesus pôs para acolherem a vinda do Paráclito, e a prolongada oração foi o pressuposto da sua concórdia. Aqui encontramos uma lição estupenda para cada comunidade cristã. Às vezes pensa-se que a eficácia missionária dependa principalmente de uma cuidadosa programação e da sua realização inteligente através de um compromisso concreto. 

O Senhor pede certamente a nossa colaboração, mas, antes de qualquer resposta da nossa parte, é necessária a sua iniciativa: o verdadeiro protagonista é o seu Espírito, que se deve invocar e acolher. 

No Evangelho, ouvimos a primeira parte da chamada “oração sacerdotal” de Jesus (cf. Jo 17, 1-11a) – depois dos discursos de despedida – repleta de familiaridade, ternura e amor. Designa-se “oração sacerdotal”, porque nela Jesus aparece na atitude de sacerdote que intercede pelos seus, quando está para deixar este mundo. Predomina no texto um duplo tema: o da hora e o da glória. Trata-se da hora da morte (cf. Jo 2, 4; 7, 30; 8, 20), a hora em que o Filho deve passar deste mundo para o Pai (Jo 13, 1); mas ao mesmo tempo é também a hora da sua glorificação que se realiza através da cruz, designada pelo evangelista João como “exaltação”, isto é, levantamento, elevação à glória: a hora da morte de Jesus, a hora do amor supremo, é a hora da sua glória mais alta. Também para a Igreja, para cada cristão, a glória mais alta é aquela Cruz, é viver a caridade, dom total a Deus e aos outros. 

Amados irmãos e irmãs! De bom grado acolhi o convite que me fizeram os Bispos da Croácia para visitar este País por ocasião do primeiro Encontro Nacional das Famílias Católicas Croatas. Desejo exprimir vivo apreço pela vossa solicitude e empenho a favor da família, não só porque esta realidade humana fundamental tem hoje no vosso país, como noutros lados, de enfrentar dificuldades e ameaças e, por conseguinte, precisa particularmente de ser evangelizada e sustentada, mas também porque as famílias cristãs são um recurso decisivo para a educação na fé, para a edificação da Igreja como comunhão e para a sua presença missionária nas mais diversas situações da vida. 

Conheço a generosidade e dedicação com que vós, queridos Pastores, servis o Senhor e a Igreja. O vosso trabalho diário, tanto na formação da fé das novas gerações como na preparação para o matrimônio e no acompanhamento das famílias, é o caminho fundamental para regenerar incessantemente a Igreja e também para vivificar o tecido social do país. Possa este precioso serviço pastoral continuar a contar com a vossa disponibilidade!

Cada um bem sabe como a família cristã é um sinal especial da presença e do amor de Cristo e como está chamada a dar uma contribuição específica e insubstituível para a evangelização. O Beato João Paulo II, que visitou três vezes este nobre país, afirmava que “a família cristã é chamada a tomar parte viva e responsável na missão da Igreja de modo próprio e original, colocando-se ao serviço da Igreja e da sociedade no seu ser e agir, enquanto comunidade íntima de vida e de amor” (Familiaris consortio, 50). 

A família cristã foi sempre a primeira via de transmissão da fé e ainda hoje conserva grandes possibilidades para a evangelização em muitos âmbitos.

Queridos pais, empenhai-vos sempre em ensinar os vossos filhos a rezar, e rezai com eles; aproximai-os dos Sacramentos, especialmente da Eucaristia (este ano, celebrais seis séculos do “milagre eucarístico de Ludberg”); introduzi-os na vida da Igreja; na intimidade doméstica, não tenhais medo de ler a Sagrada Escritura, iluminando a vida familiar com a luz da fé e louvando a Deus como Pai. Sede uma espécie de Cenáculo em miniatura, como o de Maria e dos discípulos, onde se vive a unidade, a comunhão, a oração. 

Hoje, graças a Deus, muitas famílias cristãs vão adquirindo cada vez maior consciência da sua vocação missionária, e comprometem-se seriamente dando testemunho de Cristo Senhor. O Beato João Paulo II fez questão de salientar: “Uma família autêntica, fundada no matrimônio, é em si mesma uma ‘boa notícia’ para o mundo”. E acrescentou: “No nosso tempo, são cada vez mais numerosas as famílias que colaboram ativamente na evangelização. Amadureceu na Igreja a hora da família, que é também a hora da família missionária” (Angelus, 21 de Outubro de 2001). 

Na sociedade atual, é muito necessária e urgente a presença de famílias cristãs exemplares. Infelizmente temos de constatar, sobretudo na Europa, o aumento de uma secularização que leva a deixar Deus à margem da vida e a uma crescente desagregação da família. Absolutiza-se uma liberdade sem compromisso com a verdade, e cultiva-se como ideal o bem-estar individual através do consumo de bens materiais e de experiências efêmeras, descuidando a qualidade das relações com as pessoas e os valores humanos mais profundos; reduz-se o amor a mera emoção sentimental e à satisfação de impulsos instintivos, sem empenhar-se por construir laços duradouros de mútua pertença e sem abertura à vida. Somos chamados a contrastar esta mentalidade. 

A par da palavra da Igreja, é muito importante o testemunho e o compromisso das famílias cristãs, o seu testemunho concreto, sobretudo para afirmar a intangibilidade da vida humana desde a concepção até ao seu fim natural, o valor único e insubstituível da família fundada no matrimônio e a necessidade de disposições legislativas que sustentem as famílias na sua tarefa de gerar e educar os filhos. Queridas famílias, sede corajosas! 

Não cedais à mentalidade secularizada que propõe a convivência como preparação ou mesmo substituição do matrimônio. 

Mostrai com o vosso testemunho de vida que é possível amar, como Cristo, sem reservas, que não é preciso ter medo de assumir um compromisso com outra pessoa. Queridas famílias, alegrai-vos com a paternidade e a maternidade! A abertura à vida é sinal de abertura ao futuro, de confiança no futuro, tal como o respeito da moral natural, antes que mortificar a pessoa, liberta-a. O bem da família é igualmente o bem da Igreja. 

Quero repetir aqui o que disse um dia: “A edificação de cada uma das famílias cristãs situa-se no contexto daquela família mais ampla que é a Igreja, a qual a sustenta e leva consigo.  E, vice-versa, a Igreja é edificada pelas famílias, pequenas Igrejas domésticas” (Discurso de abertura do Congresso eclesial diocesano de Roma, 6 de Junho de 2005: Insegnamenti di Benedetto XVI, vol. I, 2005, p. 205). 

Peçamos ao Senhor que cada vez mais as famílias se tornem pequenas Igrejas e as comunidades eclesiais sejam cada vez mais família. 

Queridas famílias croatas, vivendo na comunhão de fé e caridade, sede testemunhas de maneira sempre mais transparente da promessa que o Senhor, ao subir ao Céu, fez a cada um de nós: “Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos” (Mt 28, 20). 

Amados cristãos croatas, senti-vos chamados a evangelizar com toda a vossa vida; senti intensamente a palavra do Senhor: “Ide, pois, fazer discípulos de todas as nações” (Mt 28, 19). A Virgem Maria, Rainha dos Croatas, vele incessantemente sobre este vosso caminho. Amém. Sejam louvados Jesus e Maria!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Devolvendo humanidade às crianças com Down

Clara Lejeune-Gaymard 

“Um dos objetivos do meu pai foi devolver humanidade às crianças com síndrome de Down”, afirma Clara Lejeune-Gaymard. Se uma parte do dinheiro que se gastou no diagnóstico e no aborto das crianças com síndrome de Down tivesse sido investido em pesquisa, já poderíamos ter a cura, segundo a autora francesa Clara Lejeune-Gaymard. Nesta entrevista Lejeune-Gaymard, autora de “Life is a Blessing: A Biography of Jerome Lejeune”, fala sobre seu livro e sobre seu pai, o cientista francês que descobriu a origem da síndrome de Down, sua vida e seu trabalho, recentemente publicado em inglês por The National Catholic Bioethics Center.

Seu pai foi um renomado cientista de genética na França, que viajou pelo mundo dando a conhecer suas numerosas descobertas, incluindo a origem da síndrome de Down. Por que seu nome não é muito conhecido, apesar do seu importante trabalho?

Esta é uma boa pergunta. Quando ele fez a descoberta da trissomia 21, poderia tê-la chamado de “Lejeune”, como muitos cientistas fazem. Mas ele não quis; porém, quis realizar duas coisas.

A primeira tinha a ver com todas as coisas humilhantes que eram ditas sobre as crianças com síndrome de Down, como que a mãe tinha tido um mal comportamento sexual ou que sua herança familiar era ruim.

Estas crianças eram escondidas, especialmente na França e no resto da Europa. Ele quis devolver a humanidade e o orgulho dessas crianças a seus pais, dizendo-lhes que estava em seu código genético e que não vinha da família nem de um mau comportamento.

Também foi a primeira vez que se descobriu que uma doença podia vir do código genético, de maneira que se abria a porta à medicina genética e à compreensão de que um cromossomo poderia ser a causa de uma doença.

Somente seis meses antes da descoberta, dizia-se que era impossível que o código genético pudesse causar uma doença. Mas ele conseguiu provar o contrário.

E a segunda coisa que ele queria era proteger os não-nascidos. Ele era muito conhecido na França e na comunidade científica porque ajudou a construir a primeira cátedra conhecida em genética em Israel e na Espanha e trabalhou com cientistas nos Estados Unidos. Na França, participou sempre como colunista na imprensa sobre questões genéticas.

Em 1969, começou a campanha do aborto da Europa, França e Estados Unidos. E desde que ele se declarou contra, todas as portas lhe foram fechadas. Então, ele já não fez parte da atualidade. Ninguém quis entrevistá-lo quando realizou sua descoberta.

Acho que em 1971 ele foi aos Estados Unidos e deu um discurso no National Institute for Health e depois disso mandou uma mensagem à minha mãe, dizendo: “Hoje eu perdi meu prêmio Nobel”. No seu discurso, falou sobre o aborto, dizendo: “Vocês estão transformando seu instituto de saúde em um instituto de morte”. E isso não foi bem aceito.
  
O livro sobre a vida do seu pai reúne uma série de momentos da vida da sua família, que iluminam não somente o trabalho científico do seu pai, como também sua profunda fé. O que lhe fez decidir escrever sobre ele com este estilo?

Eu estava grávida quando ele ficou doente; estava esperando meu sexto filho e, durante esse tempo, eu achava que ele poderia viver o suficiente para poder conhecer minha filha. Ele morreu em 3 de abril e ela nasceu em 13 de abril; então, ela nunca conheceu seu avô.

Antes de morrer, eu lhe perguntei se ele me autorizava a escrever um livro sobre ele. Eu temia que ele dissesse “não”, porque era um homem muito humilde, mas ele respondeu: “Faça o que você quiser. Se você quer dar testemunho da vida da criança com síndrome de Down, faça o que quiser”.

Tinha claro que eu queria escrever algo para a minha pequena. No começo, escrevi 30 páginas e, quando passamos as férias com um jornalista, eu lhe contei que estava escrevendo umas páginas para que a minha filha pudesse conhecer seu avô. Ele leu o material e me disse que deveria escrever um livro.

A forma como queria escrevê-lo não era a da biografia cronológica, mas como uma espécie de retratos diferentes de uma pessoa. Há um capítulo sobre a nossa vida na Dinamarca, um sobre ele como médico, outro como cristão. Cada capítulo é uma peça diferente do quebra-cabeças e, no final, você encontra o retrato da pessoa inteira.

Seu pai sofreu muito em sua carreira, devido à sua postura pró-vida. Suas convicções se baseavam em sua fé ou também em sua pesquisa científica?

Principalmente no fato de ser médico, não em sua fé. Quando você é médico, você faz o juramento hipocrático e promete não causar dano. E ele sempre dizia que o respeito à vida não tinha nada a ver com a fé, ainda que, certamente, faz parte da fé respeitar a vida.

Por isso, ele foi tão odiado pelos partidários do aborto. Era difícil lutar contra ele, porque seus argumentos eram de base científica. Ele quis explicar que a vida começava na concepção, quis contar uma história que fosse inteligível para todos, como “Tom Thumb”. Esta é uma história para crianças ou uma lenda, mas é uma realidade.

É muito estranho que a humanidade tenha sido capaz de contar uma história assim sem saber se era verdade, porque, quando foi escrita, não havia fotos de bebês no útero.

A vida começa no instante da concepção, quando os genes da mãe e os do pai se unem para formar um novo ser humano, que é absolutamente único. Todo o patrimônio genético já está lá. É como uma música de Mozart na partitura. A vida inteira já está lá.

Aos dois meses, o embrião já tem tudo: mãos, olhos, corpo. É um corpo muito pequeno, mas depois de dois meses, a única coisa que faz é crescer. Se pudéssemos pegar seu dedo pequeno, já seria possível observar sua impressão digital.

Muitos pesquisadores mantêm distância daqueles cuja vida afeta seu trabalho. Seu pai parecia ter um enfoque diferente. Como era sua relação com os pacientes e suas famílias?

Quando ele se tornou médico, seu primeiro trabalho foi em um hospital onde ele viu uma criança com Down. Foi então que decidiu que queria saber por que tinham essa fisionomia especial e todo o resto. Poderíamos dizer que esta foi realmente sua vocação. Verdadeiramente queria encontrar uma maneira de tratá-las e a isso dedicou sua pesquisa.

Ele fez essa descoberta porque amava essas crianças e suas famílias e queria ajudá-las. Querer cuidar das crianças Down não foi consequência desta descoberta, mas sim o contrário: porque ele queria cuidar destas crianças, fez esta descoberta. E isso explica sua relação com elas.

Depois da sua morte, sua família criou uma fundação para continuar seu trabalho, especialmente o de encontrar uma cura para a síndrome de Down. O que esta fundação faz e como trabalha?

Meu pai quis criar esta fundação quando ainda estava vivo, porque ele sabia que teria de retirar-se e queria que sua pesquisa continuasse. No começo, era seu projeto. Um dia antes dele morrer, fui vê-lo e ele me disse que estava triste pelos seus pacientes, porque eles não entenderiam sua partida. Disse: “Eu os estou abandonando e eles não entenderão por que já nunca mais estarei com eles”. Eu respondi: “Eles entenderão. Entenderão melhor do que nós”. Então, ele me disse: “Não, eles não o entenderão melhor, mas sim mais profundamente”.

E depois disso, quando ele faleceu, nós pensamos em fazer algo a mais pelos seus pacientes. Depois de um ano e meio, começamos uma fundação dedicada à pesquisa e tratamento não só da síndrome de Down, mas também de outras síndromes de origem genética. Criamos um centro na França, de pesquisa genética, e temos um comitê que distribui as ajudas aos diferentes grupos que estão no mundo inteiro. Fundamos 60 projetos nos Estados Unidos, com 32 equipes, e estamos em processo de começar uma fundação lá que se encarregará de mais pesquisa e tratamento.

O tratamento real não existe atualmente, já que os pesquisadores estão trabalhando em solucionar este problema genético. O patrimônio genético das crianças é correto, simplesmente se repete, como um disco riscado. Meu pai sempre dizia que uma criança Down é mais criança que as outras: é como se não estivesse totalmente acabada. Então, se esse gene pudesse ser silenciado, a criança poderia ser normal. E este é realmente o futuro da medicina, reparar o código genético. Portanto, não é louca a ideia de que possamos tratar deles algum dia. A dificuldade está em que se gasta muito dinheiro em realizar o diagnóstico e matar as crianças, até o ponto de que, se pudéssemos ter somente 10% desse dinheiro para a pesquisa, já poderíamos ter chegado à cura.

Seu pai foi amigo de João Paulo II, servindo muitos anos como membro da Academia Pontifícia das Ciências e como o primeiro presidente da Academia Pontifícia para a Vida. Como era essa relação?

Ele não diria que foi uma amigo íntimo do Papa, mas na verdade foi, sim. A história começou quando foi escolhido para a Academia Pontifícia das Ciências por Paulo VI, não João Paulo II. Mas quando este chegou a ser papa, pediu ao meu pai que fosse até o Vaticano, porque queria saber tudo sobre clonagem, pesquisa com embriões etc. Então, tomaram café juntos e, desde então, o Papa o chamava cada vez que precisava de explicações particulares. Almoçavam juntos cada seis meses.

Em 1981, no dia 13 de maio, meu pai almoçou com a minha mãe e com o Papa. Depois pegaram um táxi para ir ao aeroporto, voaram para casa e, quando aterrissaram, ficaram sabendo que o Papa estava entre a vida e a morte, porque tinham atirado nele. Eles foram as últimas pessoas com quem João Paulo II tinha estado antes de ir à Praça de São Pedro. Meu pai, naquela tarde, sofreu umas dores inexplicáveis, tanto que foi hospitalizado durante três dias. 

Experimentou sofrimentos similares aos do Papa e uma febre que desembocou em pedras no rim. Ele nunca quis falar da conexão entre sua doença e a do Papa, mas esta realmente existiu.

Antes do meu pai morrer, recebeu um telegrama do Papa, que dizia que esperava que melhorasse da saúde. Quando ele morreu, no domingo de Páscoa, ligamos para o Papa, para comunicar-lhe sobre o falecimento. 

Tínhamos um bom amigo, o ex-ministro de Justiça da França, que nos ligou naquele dia porque, ao ver o Papa dando a bênção na televisão, notou que parecia muito triste, e pensou: “Acho que o Jerome morreu”.

Quando João Paulo II veio à França, em 1997, quis visitar e rezar diante do túmulo do meu pai. Nesse momento, acompanhados por muitos guardas e agentes de segurança, deixaram nossa família estar presente. Tive de negociar para que se permitisse a entrada de pessoas com deficiência, já que meu pai não entenderia esta visita do Papa sem a presença das suas outras crianças.

Nossa Senhora Aparecida: Padroeira do Brasil há 80 anos

O Santuário Nacional recordou ontem que há 80 anos, Nossa Senhora de Aparecida é a Padroeira do Brasil. O decreto que proclamou a Virgem de Aparecida como padroeira da nação foi assinado pelo Papa Pio X no dia 16 de julho de 1929 e a proclamação oficial se deu no Rio de Janeiro, então Capital Federal, no dia 31 de maio de 1931.

Logo após a realização do Congresso Mariano de 1929, por empenho do então arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Sebastião Leme, e do reitor do Santuário na época, Padre Antão Jorge Hechenblaickner, os bispos presentes no Congresso pediram e obtiveram do Papa Pio X a graça de Nossa Senhora Aparecida ser declarada Padroeira do Brasil. 


Para lembrar a data, o Santuário Nacional fez uma homenagem a Nossa Senhora Aparecida durante a ‘Missa de Aparecida’, transmitida pela Rede Aparecida e pelo Portal A12.com.
Durante a Celebração Eucarística das 9h, no Altar Central, um carro andor conduziu a Imagem da Padroeira ao altar, onde foi coroada.

O Missionário Redentorista Padre Carlos Arthur Anunciação presidiu a celebração e em sua homilia recordou a data, destacando que Nossa Senhora Aparecida protege, defende e guarda todo o povo brasileiro.

Paróquias e comunidades por todo o Brasil homenagearam também a Virgem de Aparecida fazendo a coroação da Imagem.

O Santuário Nacional de Aparecida, onde se encontra a Imagem da Padroeira do Brasil, aos cuidados dos Missionários Redentoristas, recebe centenas de romarias vindas de todas as partes do país.

Em 2010, o maior Santuário Mariano do mundo recebeu mais de 10 milhões de peregrinos.

Casamento é construção da unidade entre um homem e uma mulher

Encontrar alguém para dividir os sonhos, as felicidades e construir junto uma família. Esse ainda é o sonho de muitas pessoas. Em 2008, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrou 959.901 casamentos no Brasil. Este foi o maior índice desde 1999.

A psicóloga especialista em logoterapia Teresa Militão salienta que a busca por um parceiro é a busca pela construção de uma unidade nos três níveis humanos: físico, mental e espiritual.

A unidade física, que gera novas vidas, está ligada à paixão e ao amor. A partilha de pensamentos, experiências e emoções, mesmo havendo diferenças, fazem parte da busca pela unidade psicológica. Já no nível espiritual, o ser humano busca um sentido para a vida e isso pode ser construído com outra pessoa. "Nesse nível está a concepção do próprio casamento, a comunhão com Deus e com os outros”, explica a logoterapeuta.

A amizade, o diálogo, a partilha de sentimentos, dúvidas, anseios, felicidades e tristezas, e a busca por um sentido dos acontecimentos fazem parte da preparação para o casamento. Na dimensão espiritual, a logoterapeuta ressalta que a vivência numa comunidade é um grande auxiliador na preparação do casamento, pois assim o casal participa de uma realidade mais ampla.

Os namorados Ana Carolina Muniz e Fausto Teixeira já pensam no casamento e, para eles, conversas com casais mais experientes e a participação de encontro de namorados e noivos são oportunidades para aprofundar o sentido do matrimônio. “Sentimos que o nosso caminho para o matrimônio é construído entre nós, mas também com as pessoas que participam da nossa vida”, destacam.

Como namorados, Ana e Fausto procuram amadurecer humanamente e buscam juntos uma unidade com Deus. “Observamos nossos defeitos e qualidades para encontrar tudo aquilo que podemos exercitar para fazer o outro feliz, em paralelo também procuramos crescer na profundidade do relacionamento com Deus”, contam.

O casamento é uma vocação, um chamado de Deus antes de tudo, como também salienta o especialista em Teologia Moral e acompanhamento de casais, padre Ricardo Pinto. E para saber se é a hora certa, a psicóloga esclarece que é preciso ter a certeza da vocação, entender se esta é a forma para a realização da felicidade a qual Deus pensou e é necessária a disposição de amar o outro ao ponto de renunciar coisas pessoais, por amor a essa pessoa.



Sacramento do Matrimônio

“O Sacramento da Matrimônio é expressão do amor de Deus pela humanidade. A união de um homem e de uma mulher no sacramento do matrimônio se torna expressão viva do amor de Deus”, diz o sacerdote.

Segundo o Catecismo da Igreja Católica (CIC), o pacto matrimonial constitui uma comunhão íntima de toda a vida, entre um homem e uma mulher, "ordenado por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à procriação e educação da prole" (CIC nº 93).

“Depois de uma preparação e de uma decisão livre, eles assumem amar um ao outro até o fim, constituindo essa unidade profunda e verdadeira, caracterizada pela indissolubilidade. E a partir da graça que recebem no sacramento, juntos iniciam uma família, sendo cocriadores com Deus, dando continuidade a obra de Deus", esclarece também o sacerdote.

Para os noivos Flávia De Petri e Daniel Langhi, o casamento não é apenas um evento e sim uma nova etapa na vida de ambos. É a construção de uma família. "Nós queremos ser instrumentos para levar o próximo a Deus e mostrar que, mesmo diante de tantas destruições familiares que vemos hoje no mundo, o amor de um para com o outro, com Jesus entre nós, prevalece",  afirmam.

Os princípios cristãos são a base do noivado de Flávia e Daniel, base que sustentará a família que eles querem construir.

"Hoje nos deparamos com um mundo superficial onde por qualquer dificuldade tudo desmorona e a Igreja é nosso alicerce, mesmo diante de nossas dificuldades, é a base que sempre permanecerá firme e que nos dá segurança”, diz Flávia.

Mas infelizmente, alguns casais deslumbrados pela indústria que se criou em cima desse evento, se casam sem entender a profundidade deste sacramento. Padre Ricardo salienta que o acompanhamento feito pelas paróquias ajuda o casal a acolher esse dom de Deus.

“Nós como Igreja devemos nos preparar cada vez mais para acolher esses casais. Primeiro, é necessário uma abordagem mais direta, mais aberta, mais profunda e enraizada no sentido teológico do matrimônio", destaca o sacerdote que ressalva que a compreensão do Sacramento do Matrimônio começa na preparação para o Crisma e nos grupos de jovens.


Amor verdadeiro

No interior do coração do homem e da mulher, existe um desejo de algo profundo. “Os jovens estão cansados de tanta superficialidade e instrumentalização em torno do sexo e da afetividade. Eles querem coisas verdadeiras, límpidas e puras a serem vividas”, ressalta o teólogo.

A descoberta da sexualidade segundo o projeto de Deus para a felicidade do homem e a compreensão do casamento como um chamado de Deus, explica o sacerdote, levam à construção de um amor que não passa, que não está sujeito a condicionamentos culturais, um amor que nasce de Deus, com dimensões eternas.

Como esclarece o especialista em Teologia Moral, a unidade pedida por Jesus ao Pai, passa também pela unidade do casamento, por isso a Igreja não reconhece o divórcio. Existe a possibilidade de nulidade a partir do entendimento de que não houve o Sacramento do Matrimônio.

Padre Ricardo explica que a unidade do casal começa no dia do matrimônio e cresce no cotidiano e na doação mútua. “Ninguém casa só porque ama o outro, mas casa pelo desejo de resignificar esse amor a cada dia”, enfatiza.

Famílias desestruturadas geram indivíduos desequilibrados

Vera Araújo da Universidade de Sophia
A família é a "célula mãe" das comunidades e apesar das crises e problemáticas atuais, é ainda esta formação familiar que agrega a maior parte dos cidadãos. 

De acordo com a educadora Sílvia Gaspar, uma família bem estruturada é fundamental no que se refere à formação das crianças e jovens como futuros membros de uma sociedade. 

"É na família que se vive e se assimila, para toda a vida, os valores fundamentais do homem e neste relacionamento estreito, com forte ligamento de afeto e cumplicidade é que, em geral, se baseia a conduta de cada um dos cidadãos, quer numa cidadezinha de interior ou numa metrópole”, enfatiza.

A socióloga Vera Araújo, docente da Universidade de Sophia, na Itália, ressalta que a família também é a primeira atingida pelo desequilíbrio social. Deste modo sua importância é fundamental e, através dela, que se inicia a renovação da sociedade que se deseja.

“Na família se gera a solidariedade e o amor. Na família há sexos diferentes, idades diferentes, capacidades diferentes, é um laboratório onde se vive o amor”, elucida a socióloga.

Tendo em vista assim a importância da entidade familiar, segundo a educadora, não é difícil entender que se uma família é bem estruturada pode gerar indivíduos equilibrados e atuantes positivamente em uma comunidade. O contrário também é válido. 

“Os pontos mais comuns que prejudicam o convívio familiar e criam mecanismos problemáticos nas famílias são ligados, em geral, às dificuldades sérias encontradas na condução da educação dos filhos; condutas que favorecem um consumismo exacerbado; desatenção à intromissão sem critérios dos meios de comunicação de massa; desvalorização do aspecto da espiritualidade na formação humana”, destaca Sílvia Gaspar.

Dificuldades como estas, em famílias desestruturadas, na maior parte dos casos, gera indivíduos inseguros, carentes de valores, de afeto, prejudicados socialmente, sem força de atuação na própria vida e também no convívio social, explica a educadora. 

“Atualmente vários estudos psicológicos comprovam que a relação pai, mãe, filho e irmãos é uma realidade tão profunda e intrínseca no ser humano que seu fracasso pode desencadear uma série de situações de desequilíbrio e sofrimento que vai do aspecto individual e psicológico, ao aspecto comunitário e social, até com patologias mais sérias”, salienta Silvia Gaspar.

Felizmente todo ser humano, bem como as entidades familiares, tem a capacidade de recomeçar e pode até se reestruturar com ajuda espiritual e médica. A educadora enfatiza que uma família com problemas pode, com a ajuda certa, reencontrar um caminho novo, reconstruindo assim a vida dos seus membros.

"Se a família desmorona, as pessoas não sabem onde aprender a amar, pois o próprio amor se aprende, não é algo emocional, ele é vivido de forma concreta. O amor de uma mãe, por exemplo, é concreto e o filho sabe que é concreto, pois a mãe cuida dele e se sacrifica por ele”, reforça a socióloga Vera Araújo. 

segunda-feira, 30 de maio de 2011

'Políticas familiares' e 'Educação para o amor' são temas das palestras do 1º Simpósio Nacional da Família


Dom Joaquim Justino Carrera

Durante o 1º Simpósio Nacional da Família, que acontece no auditório Padre Noé Sotillo do Santuário Nacional, a mesa de palestrantes foi mediada pelo casal coordenador nacional da Pastoral Familiar, Raimundo Tico Veloso e Vera Lúcia Veloso, e contou também com a participação do presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB, Dom João Carlos Petrini.

Os palestrantes foram o bispo auxiliar de São Paulo (SP), Dom Joaquim Justino Carreira, que falou sobre ‘Família e políticas familiares’, e a assistente social, terapeuta familiar, especialista em gerontologia, psicologia transpessoal e orientação familiar, Cleusa Thewes, que abordou o tema ‘Família e afetividade: educar para o amor’.


Segundo Dom Joaquim Justino, baseado na Familiaris Consortio, disse que ‘a família, nos tempos de hoje, tanto e talvez mais que outras instituições, têm sido posta em questão pelas amplas, profundas e rápidas transformações da sociedade e da cultura.


“Muitas famílias vivem esta situação na fidelidade àqueles valores que constituem o fundamento do instituto familiar. Outras se tornam incertas e perdidas frente a seus deveres, ou, ainda mais, duvidosas e quase esquecidas do significado último e da verdade da vida conjugal e familiar. Outras, por fim, estão impedidas por variar situações de injustiça de realizarem os seus direitos fundamentais. Então, a Pastoral Familiar, com seus três setores: Pré-matrimonial, Pós-matrimonial e Situações Especiais deve acolher todas as famílias, não importando a sua situação, e anunciar, ajudar e prosseguir o Projeto de Deus sobre a família”, afirmou.


Ainda de acordo com Dom Joaquim, o fundamento das políticas familiares deve conter o reconhecimento da família como titular de direitos e deveres enquanto família e sujeito social, enquanto ator responsável no plano público, protagonista de sua vida.


“E os projetos das políticas públicas familiares devem reconhecer, melhorar e fortalecer a rede de bens familiares: relações conjugais, transmissão de vida, sucessão de gerações, maternidade, paternidade, filiação, relações de parentesco, afeto, apoio mútuo, projeção e outros bens essenciais que só a família, como um todo, pode pronunciar. Exercendo o papel de subsidiária da função familiar e nunca substituindo o papel da família em suas tarefas e responsabilidades. Só assim se quebrará o ciclo vicioso da pobreza”, explicou.


A doutora Cleusa Thewes, que falou sobre a educação para o amor.


“A família como instituição situa-se na aldeia global absorvendo mudanças políticas, religiosas e culturais. O contexto é desafiador. Urge educar, alfabetizar o coração dos filhos no amor. Pais debrucemo-nos na janela do mundo, identificando ideologias e sentimentos dominantes não saudáveis, influenciando filhos, colocando em risco futuras gerações”, disse.


“A família, embora na turbulência, vem se mantendo. Estudiosos das diversas áreas verificam que tal instituição, mesmo afetada por mudanças socioculturais, éticas e religiosas, reage aos condicionamentos e, ao mesmo tempo, adapta-se a eles, encontrando novas formas de organização que, de algum modo, a reconstituem”, disse Celusa, citando a fala de Dom Petrini.