sexta-feira, 29 de abril de 2011

Uma falha astronômica

Dom Aloísio Roque Oppermann 

Por estar fazendo uma pesquisa sobre o matrimônio, a qual envolve a colaboração dos meus leitores, recebi por parte de pessoa bem intencionada a apresentação de uma dúvida que merece consideração. Trata-se de ideia vicejando firme em nosso mundo moderno, convictamente freudiano. O sexo genital se tornou fonte de diversão barata, ao alcance de todos. Não há freios nem limitações, de maior porte, para mentes esclarecidas, libertas de culpas doentias. Fazer amor foi classificado como ocupação normal. A atividade sexual não deve despertar mais recalques e remorsos, dizem.


Será que o cristão pode se esquecer do que dizem as Sagradas Escrituras: "Nem os imorais, nem os adúlteros, nem os depravados...irão herdar o Reino dos céus" (I Cor 6, 9)? Embora tenhamos em nós a tendência forte de tudo erotizar, a moral cristã põe à nossa frente um grande ideal: fazer uso do direito ao sexo só dentro da vida de casados. É saber “guardar-se para a pessoa amada”. Dentro do matrimônio a sexualidade tem a bênção divina, e afina com nossa natureza. O Criador concedeu ao casal humano o prazer sexual para que homem e mulher se completem física e psicologicamente, e para que tenham prole.


Ora, o caro leitor nos pergunta se não é devido a essa convicção geral - atividade sexual fora do casamento - que caiu o interesse pelo sacramento do matrimônio? Se o sexo pode ser tranquilamente vivido antes do casamento, por que ainda se casar em público? Nesta circunstância, receber o sacramento de Cristo perdeu o interesse. Isso se chama secularização. É um rombo astronômico na nossa formação moral. O cristão que procura viver essa limitação é considerado um extraterrestre. Mas é preciso ao menos desconfiar dos dogmas do mundo moderno.


São Paulo nos alerta, com sabedoria: "Não vos conformeis com este mundo" (Rom 12, 2). O Criador, que nos programou, não nos faz exigências absurdas. Tenho visto, com clareza, que os namorados que vivem esse ideal [castidade] antes do casamento, também após a união são fiéis um ao outro. E temos a certeza, vinda de Cristo: quem vive a castidade tem gosto para a vida de oração. "Felizes os puros de coração, porque verão a Deus" (Mt 5, 8).



Dom Aloísio Roque Oppermann scj
Arcebispo de Uberaba – MG

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